Luto
Carta ao meu luto. Ou melhor, escrita para o meu luto: que não passa, e é latente. Aqui, neste espaço, tentarei exercer a escrita verdadeira, por mais deficitária que seja. Avante! Coragem. Escrever é rasgar-se a si mesmx.
Primeiramente, devo mencionar que:
- não sei de qual luto falo aqui;
- são inúmeras facetas de um luto;
- é possível sentir luto pela perda do indivíduo que se esvai, mas se encontra vivo;
- é possível não conseguir enlutar alguém;
- algumas perdas são imensuráveis; e
- eu não sei se trago, comigo, a dor da perda de pessoas que se foram somente da minha vida, ou, daqueles que não se encontram em nosso plano terrestre.
De qualquer forma, é dor, é luto.
Escrever é um exercício mental, espiritual e psíquico para manter-se viva e em pé. Não é fácil, mas, seguimos.
Eu não sei quantos meses vou demorar para escrever este texto. É um texto que ferve, que dói, dilacera... A morte sempre nos deixa uma questão: o que não conseguimos ser para aqueles que se foram? A morte deixa lacunas, principalmente, naqueles que ficam inconformados.
Escrevo porque a minha cabeça não consegue lidar com tantas vozes: quero falar, a necessidade de colocar para fora o ego. Busco uma mente mais pacífica, uma fala menos ansiosa e mais branda. Difícil! As palavras pulam. Não têm coerência alguma: crio prisões, abismos, sentimentos que não me deixam pensar melhor... tenho medo de perder a leveza da vida.
Há meses venho tentando terminar este texto, e não consigo. O que não conseguimos ser para àqueles que se foram? Ou, o que conseguimos ser?! Por que, de alguma forma, temos tanta necessidade de prender para não perder? Será que os antigos preparavam-se melhor para o luto e a morte do que nós? O que queremos tocar quando tentamos elaborar o luto?
Bem, não vou mentir: este é o meu limite de escrita pois, eu não consigo mais prosseguir com este texto...
Enlutar um ser demanda tempo, talvez, uma vida. Talvez, sejamos analfabetos emocionais e sentimentais.
Quando a "morte" chega,o espaço e tempo mudam. Como se algo fosse retirado de sua própria atmosfera. São múltiplas atmosferas. Quando vamos embora da vida de alguém, mudamos a atmosfera daquela pessoa, e mesmo quando chegamos...
Atmosferas particulares, bolhas, às vezes, impenetrável...
Eu brinco que: a morte é uma mudança de curso no qual somos deslocados para um outro lugar, para outra atmosfera... A bolha é penetrável!
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